“Hoje, espalha-se por aí, é dia da mulher. E virão rosas. E receber rosas é a perfeita metáfora do que significa esse dia. Eu não tenho nada contra rosas, gosto até, mas o certo é que elas murcham brevemente, depois de arrancadas. E esse dia da mulher, em rosas e eufóricos “parabéns por ser mulher” – como uma evidência biológica e não um vir a ser – é assim: um efêmero oba-oba que se extingue no cotidiano dos salários diferentes para fazer a mesma atividade, nas jornadas duplas e triplas de trabalho, na regulação externa sobre o corpo feminino, na violência sistemática e institucionalizada contra a mulher, na naturalização das expectativas de comportamento, na redução da mulher à maternidade, na demanda de docilidade constante... um conjunto complexo de situações que implicam na necessidade de uma luta constante e não um arroubo sistematizado sobre uma entidade coletivaindiscriminada. Então, dão-nos rosas, como dizendo: aproveita que é só hoje. Pois eu digo: não, não me façam homenagens, não elogiem o que é um suposto em mim, não celebrem por mim e em meu nome. Pois eu digo Não. Não desobrigada. Não quero ver meus sonhos, direitos e desejo em pétalas murchas, amanhã.”
Autora: Luciana Nepomuceno, em Borboletas Nos Olhos: Metáfora Perfeita).
0 comentários:
Postar um comentário